Moinhos de Maré

Desde que se apercebeu que os cereais reduzidos a farinha poderiam servir como alimento, cozinhando-os em água ou transformando-os em pão, o homem tentou rentabilizar essa atividade e acelerar o processo de moagem. Com duas pedras gigantes esculpidas obteve as mós que esmagavam os cereais mas que necessitavam de todo um engenho que permitissem rodar com a ajuda dos elementos da natureza. Foi assim que se criaram os moinhos. Os mais celebres são os que utilizam o vento como fonte de ignição, mas os moinhos de maré foram igualmente importantes numa época em que a moagem era feita sem recurso à eletricidade que não havia ainda sido descoberta.

Conceito de moinho de maré

Um moinho de maré, como o próprio nome indica, aproveita a maré para fazer acionar um sistema que culmina nas mós,  tal como encontramos num moinho de vento.  Eram construídos principalmente nos estuários dos rios que obedecessem  a critérios muito específicos, tais como a grande área de alagamento resultante da pouca depressão do local. Pelas características do território, essas construções eram abundantes no estuário do Tejo na margem sul mas também no estuário do Sado. Existem também alguns moinhos de maré no Sotavento Algarvio, inclusive na Ria Formosa. Tinham um funcionamento interessante: na maré alta as caldeiras ficavam cheias de águas. As portas das caldeiras eram fechadas e assim se mantinham até baixar a maré quando eram então abertas e com a força da saída das águas, um sistema engenhoso iria fazer com que as mós funcionassem dentro de edifícios construídos para o efeito. O resultado seria uma série de mós a girarem em simultâneo e a reduzir os cereais a farinha.

Nos dias de hoje restam uns quantos. Na maioria são apenas vestígios mas felizmente a reabilitação de alguns moinhos faz com que não se perca na memória estes engenhos que durante séculos garantiram a moagem de cereais.

Fui à procura de moinhos de água hoje reerguidos e abertos ao público e conheci três, dois no estuário do Tejo e um no Sado e hoje trago algumas imagens que penso serem ilustrativas do seu funcionamento.

Moinho de Maré do Montijo

A sua construção remonta ao século XVII, tendo a autarquia adquirido este moinho a proprietários privados afim de o reabilitar e abrir ao público. Situado no Montijo a escassos quilómetros da foz do rio Tejo é um dos poucos que restou de uma série de moinhos que sabemos terem existido naquela região.

Moinho de Maré de Corroios

Este moinho está inserido também no Tejo numa área ainda mais próxima do mar e data de 1403. Logo à entrada somos recebidos com informação sobre as espécies que por ali habitam e que fazem parte da fauna do estuário do Tejo. Este edifício tem um acesso ao piso superior com mais informação e tive oportunidade de falar com uma das colaboradoras que explicou com exatidão todo o processo de aproveitamento das marés, bem como o nome das peças e mecanismos que constituem o moinho e toda a estrutura em redor. Foi sem dúvida uma aula importante para melhor compreensão de todo o sistema.

Moinho de Maré da Mourisca

Situado na Herdade da Mourisca em Setúbal, resulta do aproveitamento do estuário do rio Sado para instalação de um moinho de maré, que funcionou durante mais de 250 anos. Este, para além do edifício e de todo o sistema de comportas tem também uma lojinha e um café com uma esplanada. Tudo decorado com absoluto bom gosto, o que permite ficar por ali um par de horas. Está também integrado numa zona de observação de aves, um outro motivo para fazer uma visita.

Acho que nunca tinha feito um post tão longo mas na verdade não consegui encurtar e pareceu-me que fazia sentido trazer os vários moinhos de maré de uma só vez, pois creio que para quem não conhece, fica uma informação mais completa.

Espero que tenham gostado, se puderem façam uma visita. Todos eles têm entrada grátis e podem visitá-los em qualquer altura. Se o fizerem na maré alta (o que no meu caso nem sempre calhou) irão ter uma paisagem fenomenal, digna de um belo registo fotográfico. Aproveitem e depois contem-me como correu.