12 de julho de 2024

Tejo - outra forma de conhecer o seu estuário

É o meu rio, no sentido em que é o rio que passa em Lisboa, cidade que me viu nascer e onde gosto sempre de voltar.

Considerado o maior rio que atravessa Portugal, o Tejo nasce em Espanha, sendo o mais extenso da Península Ibérica. Como todos os rios, sempre serviu as populações habitantes nas suas margens e não só, o que no caso de um rio bastante grande como este, envolve uma fatia significativa da população.

À medida que se vai aproximando da foz, o rio alarga as suas margens estando a zona de estuário calculada em  cerca de 15 mil hectares, que comportam uma área natural protegida, habitat de inúmeras espécies, para além de atividade entre as duas margens quer de transporte de mercadorias, quer de passageiros.

Tive oportunidade de fazer uma pequena viagem recreativa nas suas águas  A experiência foi escolhida dentro de uma série de possibilidades, pois tínhamos um voucher de presente de Natal que nos tinha sido oferecido e pensei que seria uma ótima oportunidade. Não tinha qualquer referência pessoal sobre a empresa, portanto fui um pouco ao acaso, guiando-me pelos comentários de outros utilizadores. Tenho a dizer que não poderia ter ficado mais satisfeita.

Centro Tejo - a descoberta do rio

Aproveitando que ainda era cedo, fui fazer de turista e conhecer o Centro Tejo uma área junto ao cais de embarque onde se pode descobrir um pouco mais sobre o rio e a envolvência com as localidades ribeirinhas. Inaugurado em 2021 e localizado na estação Sul e Sueste no Terreiro do Paço em Lisboa, de onde partem e chegam as carreiras marítimas que transportam os passageiros entre as margens, é constituído por pequenas salas com caracter didático e possui ainda uma loja de souvenirs e um posto de turismo. O acesso é gratuito para todos, tanto para os que embarcam como para qualquer pessoa que queira conhecer um pouco melhor toda a dinâmica do estuário do Tejo ao longo dos anos, incluindo fotografias antigas das localidades na frente ribeirinha, assim como ilustrações sobre a fauna e flora do rio.

Cada farol tem informações sobre uma localidade ribeirinha

Nesta sala existe uma espécie de mesa com relevo, onde está projetada uma imagem de satélite com toda a área do Estuário do Tejo. À volta estão botões que, quando pressionados, iluminam zonas específicas: as pontes, os moinhos de maré, etc. Muito instrutivo.


A área de espera para os passageiros também está muito bem conseguida, com painéis em azulejo retratando cidades portuárias.



Viagem a bordo de um barco típico do Tejo

E chegou a hora de embarcar. A tour foi feita a bordo do Sejas Feliz um bote de fragata de 1947 que foi restaurado e agora serve para fazer percursos turísticos. É já um dos poucos barcos típicos que restam e esta é sem dúvida uma forma digna de manter o barco no ativo, e evitar que fosse destruído como tantos outros, quando a construção da primeira ponte em Lisboa passou a permitir o transporte em camiões, tornando o transporte marítimo de mercadorias entre margens completamente obsoleto. A pequena viagem de 45 minutos foi muito agradável e podemos ver o Terreiro do Paço, Alfama e toda a orla até perto da Ponte 25 de Abril, vindo depois mais junto ao Cais do Ginjal na margem sul e voltando ao ponto de partida, tudo acompanhado pela guia que ia contando as histórias relacionadas com os locais por onde passávamos. Também era feito o relato em inglês e esclarecida qualquer dúvida.



Terreiro do Paço









Cais do Ginjal




De volta a Lisboa



Foi uma tarde bonita, isto de fazer de turista na minha própria cidade e poder vê-la com os olhos de quem vem de fora é muito interessante e desperta-nos para coisas que por vezes nem pensamos. Hoje o rio tem provas náuticas e barcos modernos que diariamente trazem e levam pessoas entre as duas margens, mas noutros tempos eram as mercadorias as principais responsáveis pelo enorme tráfego registado, não esquecendo os barcos de pesca que também ali navegavam. E para isso existiam vários tipos de embarcação: canoas, varinos, fragatas, catraios, faluas são apenas alguns dos modelos de barcos que tão bem conheciam o Estuário do Tejo.

Aproveito para referir que não tenho qualquer vinculo comercial com a empresa turística Nosso Tejo, apenas gostei do serviço proposto. Também para quem gosta de barcos e de toda a atividade marítima, é certamente uma boa forma de conhecer o rio.

21 de junho de 2024

Lá, Onde o Vento Chora

Hoje trago a review de um dos mais belos livros que li nos últimos tempos. A sua autora Delia Owens nasceu em 1949 nos Estados Unidos da América, concretamente no Estado da Geórgia e formou-se em zoologia pela universidade local, mais tarde fez um doutoramento na Universidade da Califórnia e durante vinte anos dedicou-se a estudar o comportamento de várias espécies selvagens tais como leões, hienas e elefantes, especialmente em países como Botwana e Zâmbia. E foram as suas vivências enquanto cientista nos países africanos que lhe permitiram ser co-autora de três obras sobre a vida selvagem que lhe valeram prémios e reconhecimento internacional.

Já depois dos 70 anos escreveu o primeiro romance (e único até ao momento), que desde logo mostrou ser um fenómeno de vendas, algo que não havia sido pensado inicialmente.


O Livro

No original Where The Crawdads Sing, foi editado em 2018 e no Brasil recebeu o nome de Um Lugar Bem Longe Daqui. Esta obra não se enquadra imediatamente em nenhum género específico e no entanto tem uma beleza incrível que consegue chegar a amantes de vários estilos literários, muito pelos pormenores descritivos com que a autora nos transporta para os pântanos da Carolina do Norte.

O livro conta a história de Kya Clark que aos seis anos vê a mãe abandonar o lar, deixando para trás a família, que pouco a pouco se vai desmoronando. Kya cresce no meio dos pântanos, onde as idas à cidade se tornam em oportunidades para os outros a olharem com repudio, o que a obriga a crescer de uma forma solitária e um pouco desconfiada com as pessoas em geral. Até ao dia em que um rapaz aparece morto e as suspeitas recaem na jovem dos pântanos de que quase ninguém gosta de se aproximar.

A Minha Opinião

Como disse no inicio, este é um livro maravilhoso, porque para além da história que prende pelas reviravoltas que dá, com o mistério a adensar-se, é também muito interessante pela forma dura como retrata a realidade de sobrevivência de alguém que vive numa zona inóspita do Estado da Carolina do Norte. Tive até curiosidade e fui procurar mais informação sobre esta zona dos E.U.A. 

A literatura tem este poder, de nos transportar para outras paragens e de nos fazer querer conhecer ouros lugares.

Em 2022 o livro foi adaptado ao cinema e em Portugal recebeu o nome de A Rapariga Selvagem. Conta com Daisy Edgar-Jones no papel principal. 

Por tudo isto, é claro que aconselho muito a leitura de Lá, Onde o Vento Chora.



5 de junho de 2024

Mértola através dos tempos

Já por diversas vezes escrevi aqui sobre Mértola, esta bonita vila do Baixo Alentejo pertencente ao distrito de Beja e cujo rio Guadiana corre a seus pés.

No entanto hoje gostaria de mostrar mais um pouco de Mértola sob o ponto de vista histórico. A vila é um verdadeiro museu a céu aberto e tem recantos particularmente curiosos para quem, como eu, gosta de compreender a dinâmica de uma região, do ponto de vista cultural.

Assim, começando pelos tempos mais recuados, sabe-se que já na idade do Neolítico, a zona seria habitada. Mas foi com a instalação dos romanos que a região sofreria uma evolução acentuada, tendo-lhe sido atribuída o nome de  Mírtilis Júlia. No núcleo mais antigo de Mértola, dentro das muralhas podemos encontrar um pequeno museu instalado no edifício que alberga a Câmara Municipal. A entrada faz-se pela porta principal e, descendo, encontramos um pequeno museu onde estão dispostas algumas peças e achados arqueológicos da época da ocupação romana.




Após a queda do império Romano, surgiram os Visigodos que ali habitaram entre os séc. VI a IX.

Entretanto, povos do norte de África ocupavam o sul da Europa e seria pelo ano de 711 que as tropas do Gen. Tárique ocupariam toda esta região. 

Se caminharmos em direção ao castelo, vamos ter oportunidade de visitar as escavações que puseram a descoberto o Bairro da Alcáçova. Estas escavações resultam do trabalho conseguido pelo historiador Cláudio Torres que desde 1978, aquando da fundação do Campo Arqueológico, luta por dar a conhecer o passado histórico de Mértola. Existe aqui até mesmo a recriação de uma casa da época, erguida segundo os moldes da estrutura encontrada nas escavações.




Esta reprodução de uma casa comum mostra-nos uma pequena morada com um pátio central coberto com colmo, que permitia recolher as poucas águas da chuva. À volta estariam dispostas as restantes áreas: uma  para o dono da casa, uma área de refeições e pouco mais. 


A reconquista cristã e integração no território português aconteceria em 1238 sob as ordens do monarca Sancho II. A vila iria sofrer profundas alterações e como acontecia nestes casos, a nova identidade seria erguida sobre a anterior. No caso da igreja matriz que hoje podemos apreciar, a adaptação fez-se de uma forma até harmoniosa, uma vez que foi deixada toda a estrutura e apesar das inúmeras reconstruções, as colunas no seu interior e o teto abobado mantiveram-se tal como originalmente quando o templo foi erguido em pleno séc. XII.





Por fim não podemos esquecer o castelo próximos às escavações. Constitui um ponto de observação de grande parte da vila e também do rio Guadiana que corre mesmo ali ao fundo. Vale a pena subir à Torre de Menagem, conhecer o conjunto arquitetónico e apreciar a paisagem em redor que é simplesmente magnifica. Podemos ver grande parte da vila, o rio e todo o casario dentro das muralhas.














Agora que já percorremos rapidamente uns quantos séculos de história gostaria de vos convidar a vir conhecer de perto toda esta maravilha. Mértola é, como disse no início, um museu a céu aberto e sabe receber como ninguém. Aqui sentirão o pulsar do Alentejo profundo, a lonjura dos espaços e aquela sensação de plenitude que o campo tem para oferecer.


30 de maio de 2024

O Meu País Inventado.

Já li alguns livros de Isabel Allende, escrevi até um post na altura e foi com imenso gosto que voltei à grandeza da sua escrita. 

Isabel Allende


O Livro

Publicado pela primeira vez em 2003 e no original  Mi País Inventado é um livro essencialmente biográfico. Nele, Isabel Allende conduz o leitor até ao Chile da sua infância e juventude, acompanha-a nas suas estadias por outros países e permite-nos conhecer através das suas memórias a singularidade da sua família e as tradições que sempre a acompanharam. Ficamos também a conhecer um pouco mais sobre o Chile, a sua história e os períodos mais marcantes da revolução chilena.

A Minha Opinião

É um livro que se lê avidamente, fruto de uma escrita bastante fluída e da capacidade da autora de escrever de uma forma intimista, chegando até a recorrer a uma certa  ironia nas palavras. Há passagens em que consegue transmitir-nos uma certa melancolia, principalmente quando nos é dado a perceber o quando ela sente que, embora esteja fora do país há tantos anos, nunca se separou verdadeiramente dele, conservando em si as memórias de um povo.

Por tudo isto, aconselho vivamente a leitura de O Meu País Inventado..

18 de maio de 2024

Percorrendo a Serra do Buçaco

A Serra do Bussaco (atualmente escreve-se com "ç" mas por uma questão de uniformidade escreverei à antiga) é uma elevação no centro de Portugal que se distribui pelos concelhos de Aveiro e Coimbra. Esta serra, com 549 mt de altitude, alberga a Mata Nacional do Bussaco, considerada pela Unesco como património mundial e, no centro desta, o famoso Palácio do Bussaco, hoje transformado em hotel de luxo: o Palace Hotel do Bussaco. Administrativamente, a região pertence à freguesia do Luso, distrito da Mealhada.

A Serra do Bussaco assistiu em 1810 a uma das batalhas mais decisivas em Portugal onde as tropas de Napoleão sairiam uma vez mais derrotadas, naquela que foi a 3ª invasão ao nosso país.

Existe até um obelisco para assinalar essa vitória, de onde se pode ver uma belíssima parte da serra. Foi por aqui que subi ao topo da serra e por aqui passei na descida, daí ter fotografias do monumento em dois momentos diferentes.


Obelisco comemorativo da vitória sobre as tropas invasoras. A frente e a traseira do monumento.

Mas o nosso propósito era visitar a Mata do Bussaco. Gerida pela Fundação Mata do Bussaco (assim mesmo, escrito à antiga). Contempla 105 hectares de floresta protegida, em cujo centro foi erguido em finais do séc. XIX o famoso Palácio, ocupando parte do antigo convento. Existe também uma ermida, capela e inúmeras fontes. 

A Mata Nacional do Bussaco é uma área definida por muros que terá sido incrementada pela Ordem dos Carmelitas Descalços, que plantaram muitas espécies diferentes e que aí construíram o Convento de Santa Cruz do Bussaco, onde habitaram até 1834, quando as ordens religiosas foram extintas em Portugal. Podemos entrar por um dos três portões existentes e o pagamento difere consoante a forma como vamos circular lá dentro. O melhor mesmo é deixar o carro cá fora e seguir a pé.

A nossa opção foi entrar pela Porta da Rainha e ir diretamente até aos jardins do Palácio do Bussaco.


Porta da Rainha - entrada na Mata Nacional do Bussaco






Fomos andando pelo  Trilho da Água, passamos por diversas fontes, todas com nome atribuído e explicação anexada, até avistarmos o palácio, dentro do qual não se pode entrar para visitar pois foi transformado num hotel de luxo, mas estamos à vontade para fotografar o exterior, que é simplesmente deslumbrante. No estilo Neomanuelino, foi construído entre 1888 e 1907, ocupando parte da área conventual ali erguida.

Palácio do Bussaco



Convento de Santa Cruz do Bussaco

Palácio do Bussaco











Absolutamente maravilhados, não ficámos por aqui. Para visitar a mata circundante existem vários percursos pedestres e trilhos devidamente assinalados e um deles vai dar à famosa cascata que acho que todos já vimos em fotografias. Pode-se também chegar ao local seguindo pela estrada asfaltada, mas optámos por fazer o percurso mais longo, continuando a seguir pelo Trilho da Água que serpenteia pela floresta.

Depois de algum tempo e muitas subidas e descidas, chegámos finalmente à Fonte Fria um dos ex-libris da Mata Nacional do Bussaco. Cansada mas feliz, foi uma boa caminhada e valeu cada metro percorrido.

Trilho da Água





Fonte Fria

O regresso foi feito pelo caminho mais curto, seguindo pela estrada que passa em frente do palácio e segue para a portão onde do lado de fora tínhamos o carro estacionado.

Espero que tenham gostado do longo post de hoje. Quem quiser saber um pouco mais sobre o passado da serra, existe o Museu Militar do Bussaco, onde pode ficar a conhecer tudo sobre a batalha travada contra as invasões napoleónicas. Tem também a hipótese de fazer percursos de bicicleta, estando para isso assinalados alguns que levam, inclusivamente, até ao Luso ali mesmo ao lado. Há tanto para ver que uma tarde só não chega. 

Venham daí!