12 de outubro de 2024

Ermida da Nossa Senhora de Aracelis

Local de devoção e romarias, é um daqueles tesouros do Alentejo de que poucos ouvem falar mas que faz parte da riqueza histórica da região. Situada na divisão dos concelhos de Castro Verde e Mértola, as respetivas freguesias - S. Marcos da Ataboeira e Corte Pequena - contribuem para a manutenção e elaboração das festas em honra da Nossa Senhora de Arcelis, nome atribuído pela Ordem de Santiago, que, provavelmente em finais do séc. XVI terá erguido a capela num local que já servira de torre de vigia em épocas anteriores, de ocupação romana e moura. A capela terá sido remodelada entretanto, mantendo a sua identidade e simplicidade que tanto cativa todos os que a conhecem. 

O nome Aracelis deriva de uma expressão latina Ara Coelis, que significa "Altar do Céu", em referência à altitude considerável que permite vislumbrar a paisagem em redor.

Cheguei lá num fim de tarde com uma luz maravilhosa e fiz este registo que aqui deixo.

Visão geral da Ermida

A entrada



A simplicidade do interior da capelinha

A entrada vista do pátio interior


A outra passagem que dá para a planície



Do adro da capela avistam-se quilómetros de planície alentejana


Diz-se que esta capelinha tem seis irmãs (que em dias de céu limpo as consegue avistar), numa clara alusão às outras capelas que fariam parte do percurso romeiro de outros tempos. São elas, para além da Capela de N. Srª de Aracelis,  a de N. Srª dos Remédios em Alcaria, a da Cola em Ourique, a da N. Srª do Castelo em Aljustrel, a N. Srª de Guadalupe em Serpa, a da N. Srº da Saúde em Castro Marim e a da N. Srª da Piedade em Loulé.

Espero que tenham gostado desta incursão a um daqueles lugar onde apetece estar e ficar em silêncio, apenas comtemplando a paisagem. É um local de oração e respeito e é acima de tudo um lugar de meditação e muita paz.

7 de outubro de 2024

Não Adormeças - review

Terminei de o ler ontem à noite e hoje apeteceu-me vir já fazer a review. Foi a estreia de Liz Lawler como escritora e não poderia ter começado da melhor maneira. Inglesa, oriunda de uma família numerosa de catorze irmãos, trabalhou vinte anos como enfermeira, mais tarde como gerente de hotel e dado o êxito que os seus livros estão a ter (pena que este é o único traduzido para português até ao momento), parece ser definitivamente esta a profissão que irá abraçar daqui para a frente.


O Livro

No original Don't Wake Up, foi editado em 2018 e recebeu o nome de Não Adormeças (sim, parece estranho). Nele vamos conhecer Alex Taylor, uma médica que desperta num bloco cirúrgico, cujo médico tem com ela uma conversa pouco profissional.

Sentindo-se imobilizada, não consegue perceber como teria ido ali parar e quando mais tarde é encontrada na via publica debaixo de uns troncos caídos, a sua história é posta em causa por colegas e até pelo namorado, uma vez que não tem qualquer marca física que comprove o que insiste em contar. 

Alex começa a compreender que pode estar a enfrentar alucinações, até porque traz consigo as memórias de um trauma anterior. E enquanto a dúvida se instala, outro caso suspeito irá surgir, para colocar em causa as suas dúvidas, a dos colegas e a da própria polícia.

A Minha Opinião

Foi para mim uma agradável surpresa. A leitura de Não adormeças revelou-se rápida, compulsiva e até mesmo aquelas partes da narrativa mais impressionantes vieram trazer ainda mais entusiamo à história. De lembrar que a escritora é enfermeira e a narrativa se passa em grande parte num ambiente hospitalar e sendo um triller é de prever algumas descrições bastante gráficas, o que nem todos poderão suportar. 

Com esta advertência posso garantir que o livro é um bom entretenimento, daí o aconselhar a quem gosta do estilo.

28 de setembro de 2024

Manta de retalhos

Um projeto que levou bastante tempo a concluir, e é fácil explicar porquê: a ideia era aproveitar as calças que se iam rasgando aqui por casa e não serviam para mais nada, Acho que foram anos a guardar material e quando vi que tinha o suficiente, calculei o tamanho adequado de cada quadrado com vista a aproveitar o máximo de tecido. Para dar um aspeto uniforme fiz o alinhamento no chão da sala e depois costurei os quadrados até obter tiras que posteriormente costurei entre si. A parte de baixo da manta é de tecido de algodão comprado para esse propósito, daí ter escolhido um padrão a condizer. Não foi fácil costurar os quadrados e depois unir tudo ao pano inferior, pois alguns tecidos tinham elasticidade e outros não, o que não é aconselhável se queremos um trabalho uniforme, mas seria para nós e não me importei com as imperfeições. 

Acabei a manta mesmo a tempo de a levar este ano para férias, e deu bastante jeito para colocar no chão.





Devia ter fotografado todo o processo mas na verdade não o fiz, este foi um trabalho moroso e nem pensei que poderia mostrá-lo posteriormente.



O que acham, gostaram do resultado? É uma forma de reaproveitar o que já não teria uso.

16 de setembro de 2024

Monsaraz

Aldeia medieval que encanta aqueles que a conhecem, Monsaraz é um local que todos deveriam visitar pelo menos uma vez na vida. Já lá fui duas e o sentimento é sempre o mesmo .Depois de percorrermos uma estrada junto ao Alqueva, e de avistarmos ao longe a colina de onde Monsaraz reina, somos enviados para um lugar parado algures no tempo. Esta aldeia medieval é cercada por muralhas e o acesso ao seu interior é feito através de uma das várias entradas, depois de deixarmos o automóvel num dos parques exteriores gratuitos.

Monsaraz durante muitos anos serviu de ponto de vigia para defesa da fronteira portuguesa, após ter sido conquistada aos mouros em 1167 pelas tropas de Geraldo Sem Pavor, tendo recebido a sua primeira carta de foral em Janeiro de 1276, concedida por D. Afonso III. Hoje é sede de freguesia e pertence ao concelho de Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora e vive essencialmente do turismo, tendo sido inclusivamente eleita vencedora em 2017 na categoria Aldeias-Monumento no concurso "7 Maravilhas de Portugal" - Aldeias.

Pouco mais posso acrescentar, preferindo mais uma vez convidá-los a ver algumas fotos que tirei, num registo que fica sempre aquém, perante a grandiosidade do lugar.

Monumento de Homenagem ao Cante Alentejano



Uma das entradas em Monsaraz, através da muralha












Existe ainda um museu, onde se dá a conhecer grande parte da história de Monsaraz, desde os movimentos da Inquisição, à antiga judiaria, passando pela zona megalítica existente a uns quilómetros fora do povoado. Também temos oportunidade de ver uma reprodução à escala de toda a área ocupada pelas muralhas que envolvem a aldeia, junto a um painel explicativo.


A área ocupada pelas muralhas com painel explicativo.


Uma última foto que tirei numa loja de produtos regionais e vinícolas, ou não estivéssemos numa zona do país onde se produzem alguns dos mais conceituados vinhos com castas específicas adaptadas ao solo e calor da região.


E assim termino esta necessariamente breve mostra sobre Monsaraz, espero que tenham gostado. Quem já visitou com certeza reconhece algumas imagens, quem ainda não visitou acredito que tenha ficado com vontade de o fazer. O que dizem?

12 de setembro de 2024

Mourão


Mourão é uma bonita vila fronteiriça portuguesa. É sede de concelho, pertence ao distrito de Évora e está situado na margem esquerda do rio Guadiana. Quando a barragem do Alqueva ficou completa e encheu, Mourão ficou com o grande lago a seus pés, o que significa que uma das formas de chegar à vila é passar sobre uma das pontes e percorrer a estrada sobre a barragem.




Chegados à vila raiana encontramos uma simpática localidade, com uma história já antiga que remonta à ocupação moura e que, já sob o domínio português, terá tido a sua primeira carta de foral em 1226 cuja gestão seria entregue à Ordem dos Templários com vista ao repovoamento da região. Por volta desta data e já no reinado de D. Sancho II o castelo foi erguido, possivelmente sobre uma outra fortificação mais antiga e este mesmo castelo viria a ser acrescentado já no séc. XVII. Outro acontecimento importante para Mourão ocorreu em 1477 quando se travou uma batalha entre Portugueses e Castelhanos, da qual saímos vitoriosos.

Ninguém diria que este lugar assistiu a conflitos tão intensos, quando percorremos as suas ruas desertas debaixo de um sol de trinta e muitos graus em pleno Agosto.
 
Edifício da Câmara Municipal






Depois de uma refeição ligeira, estava na hora de conhecer o castelo que é o ex-libris da localidade. Como curiosidade, refira-se que continuamente à muralha, ergue-se a Igreja de Nossa Senhora da Purificação das Candeias. É uma situação curiosa e não conheço outra: existem castelos que têm dentro uma igreja, mas neste caso nem é dentro nem fora, é mesmo na continuação.










Nunca tinha estado em Mourão e gostei muito de conhecer esta vila alentejana tão tranquila. Espero voltar, quem sabe com menos calor.


12 de julho de 2024

Tejo - outra forma de conhecer o seu estuário

É o meu rio, no sentido em que é o rio que passa em Lisboa, cidade que me viu nascer e onde gosto sempre de voltar.

Considerado o maior rio que atravessa Portugal, o Tejo nasce em Espanha, sendo o mais extenso da Península Ibérica. Como todos os rios, sempre serviu as populações habitantes nas suas margens e não só, o que no caso de um rio bastante grande como este, envolve uma fatia significativa da população.

À medida que se vai aproximando da foz, o rio alarga as suas margens estando a zona de estuário calculada em  cerca de 15 mil hectares, que comportam uma área natural protegida, habitat de inúmeras espécies, para além de atividade entre as duas margens quer de transporte de mercadorias, quer de passageiros.

Tive oportunidade de fazer uma pequena viagem recreativa nas suas águas  A experiência foi escolhida dentro de uma série de possibilidades, pois tínhamos um voucher de presente de Natal que nos tinha sido oferecido e pensei que seria uma ótima oportunidade. Não tinha qualquer referência pessoal sobre a empresa, portanto fui um pouco ao acaso, guiando-me pelos comentários de outros utilizadores. Tenho a dizer que não poderia ter ficado mais satisfeita.

Centro Tejo - a descoberta do rio

Aproveitando que ainda era cedo, fui fazer de turista e conhecer o Centro Tejo uma área junto ao cais de embarque onde se pode descobrir um pouco mais sobre o rio e a envolvência com as localidades ribeirinhas. Inaugurado em 2021 e localizado na estação Sul e Sueste no Terreiro do Paço em Lisboa, de onde partem e chegam as carreiras marítimas que transportam os passageiros entre as margens, é constituído por pequenas salas com caracter didático e possui ainda uma loja de souvenirs e um posto de turismo. O acesso é gratuito para todos, tanto para os que embarcam como para qualquer pessoa que queira conhecer um pouco melhor toda a dinâmica do estuário do Tejo ao longo dos anos, incluindo fotografias antigas das localidades na frente ribeirinha, assim como ilustrações sobre a fauna e flora do rio.

Cada farol tem informações sobre uma localidade ribeirinha

Nesta sala existe uma espécie de mesa com relevo, onde está projetada uma imagem de satélite com toda a área do Estuário do Tejo. À volta estão botões que, quando pressionados, iluminam zonas específicas: as pontes, os moinhos de maré, etc. Muito instrutivo.


A área de espera para os passageiros também está muito bem conseguida, com painéis em azulejo retratando cidades portuárias.



Viagem a bordo de um barco típico do Tejo

E chegou a hora de embarcar. A tour foi feita a bordo do Sejas Feliz um bote de fragata de 1947 que foi restaurado e agora serve para fazer percursos turísticos. É já um dos poucos barcos típicos que restam e esta é sem dúvida uma forma digna de manter o barco no ativo, e evitar que fosse destruído como tantos outros, quando a construção da primeira ponte em Lisboa passou a permitir o transporte em camiões, tornando o transporte marítimo de mercadorias entre margens completamente obsoleto. A pequena viagem de 45 minutos foi muito agradável e podemos ver o Terreiro do Paço, Alfama e toda a orla até perto da Ponte 25 de Abril, vindo depois mais junto ao Cais do Ginjal na margem sul e voltando ao ponto de partida, tudo acompanhado pela guia que ia contando as histórias relacionadas com os locais por onde passávamos. Também era feito o relato em inglês e esclarecida qualquer dúvida.



Terreiro do Paço









Cais do Ginjal




De volta a Lisboa



Foi uma tarde bonita, isto de fazer de turista na minha própria cidade e poder vê-la com os olhos de quem vem de fora é muito interessante e desperta-nos para coisas que por vezes nem pensamos. Hoje o rio tem provas náuticas e barcos modernos que diariamente trazem e levam pessoas entre as duas margens, mas noutros tempos eram as mercadorias as principais responsáveis pelo enorme tráfego registado, não esquecendo os barcos de pesca que também ali navegavam. E para isso existiam vários tipos de embarcação: canoas, varinos, fragatas, catraios, faluas são apenas alguns dos modelos de barcos que tão bem conheciam o Estuário do Tejo.

Aproveito para referir que não tenho qualquer vinculo comercial com a empresa turística Nosso Tejo, apenas gostei do serviço proposto. Também para quem gosta de barcos e de toda a atividade marítima, é certamente uma boa forma de conhecer o rio.